quinta-feira, maio 22, 2008

A Guerra Colonial



"O Ultramar, compreende os territórios que, embora não integrados no Continente Europeu, ainda ali a soberania do Estado Português se manifestava. Em 1974 o Ultramar integrava os territórios que hoje correspondem aos Estados da Guiné-Bissau, Cabo Verde, São Tomé e Príncipe, Angola, Moçambique, Timor-Leste. Entre os povos nativos daquelas regiões e Portugal existia uma relação de colonizado/colonizador. Nessa relação a distribuição do poder era extraordinariamente desequilibrada, em todas as suas dimensões, política, económica, social, cultural, militar, etc. O colonizado submetia-se quase inteiramente ao poder do colonizado. Ao longo do século XX, as regiões colonizadas, quer sob influência portuguesa, quer inglesa, francesa, holandesa, belga, etc., evoluiriam no sentido da autodeterminação daqueles povos, designação do fenómeno político que visava transferir a soberania do colonizador para o povo colonizado, dando-lhe a liberdade de escolher o seu futuro como comunidade política autónoma. O Estado português, com base num conceito político de unidade nacional, independentemente da região do mundo onde o território se situava, não aceitou pacificamente o processo de autodeterminação. Aos povos do “ultramar” não restou outra alternativa que não fosse a conquista pela força, do direito à autodeterminação, pelo que se revoltaram contra a autoridade do Estado Português, naquilo que viria a ser conhecido pela Guerra do Ultramar".


Entrevista realizada por Diana Silvano. Idade do Entrevistado em 1974: 16 anos



"Esta guerra, deveu-se fundamentalmente aos interesses económicos instalados em Portugal e em colónias portuguesas que tentaram reprimir de tal forma os povos das ex colónias, para prevalecer os seus interesses. Os povos dessas colónias começaram a sentir a necessidade de se organizarem para ofereceram resistência ao regime, de tal forma que tiveram que passar para uma luta armada (...) A dada altura com a luta armada a crescer, alastrando praticamente a todos os territórios com tal intensidade, que a certa altura a palavra de ordem do regime era de “para a África e em força” (...) a polícia política estava infiltrada em ambos os sítios, inclusivamente nas próprias colónias, para além de infiltrados brancos, haviam também africanos infiltrados nas forças armadas".

Entrevista realizada por Joana Bonito. Idade do Entrevistado em 1974: 22 anos

"Os rapazes foram todos para a guerra. Muitos ficaram lá. A América e Inglaterra não viam com bons olhos (...) e Portugal era uma nação pequena mas tinha muitas colónias como Moçambique, Angola, Cabo Verde, Guiné, São Tomé e Príncipe e meteram tropas em Angola como tinha muitos bens, ouros e diamante. [Os EUA tinham interesses nas colónias] e a Rússia queria meter o comunismo para fazer explorações. No fim de Portugal sair eles lutavam para ficar com os negócios e riquezas. Em Angola lutavam e meteram as tropas “cubanas” e roubaram tudo até as campas dos cemitérios e as nossas tropas voltaram para Portugal (...) Havia muita pobreza para os nossos governantes sustentarem a guerra. Quando se deu a guerra o teu avô tinha uns 23 anos e começaram a chamar quem estava a fazer tropa. Depois começaram a chamar outros que já tinham feito e uma altura o avô tinha 25 anos e só os que tinham 24 é que foram. Quem tinha filhos e era casado ou quem eram o sustento da família não ia. Só em caso de grande violência é que chamavam quem estava na reserva. O teu avô se fosse já tinha deixado geração, queria deixar fruto. (risos)"

Entrevista realizada por Matinho Ferreira. Idade da Entrevistada em 1974: 32 anos




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