quinta-feira, maio 22, 2008

Censura



"Havia um controlo intenso sobre aquilo que os meios de comunicação social divulgavam, quer a televisão a rádio ou os jornais. O Estado criou um órgão próprio para definir aquilo que podia ou não ser divulgado. Em tudo quanto merecesse a desaprovação daquele órgão era aposto um carimbo “CENSURADO”, daí que aquele serviço fosse chamado “A Censura”. Na minha família havia pessoas que se opunham ao regime, designadamente o meu pai. Em 25 de Abril de 1974, tinha 16 anos, frequentava o então 5º ano dos liceus, hoje 9º ano de escolaridade, num estabelecimento de ensino em regime de internamento. Era ainda jovem mas sentia o contágio dos ideais que me recordava de alguns diálogos familiares (...) A PIDE era uma polícia política ao serviço do regime. PIDE é sigla do órgão Polícia Internacional e de Defesa do Estado, que após 2ª Guerra Mundial, substitui a Polícia de Vigilância e Defesa do Estado criada em 1933, mais tarde (1969) renomeada para DGS, Direcção Geral de Segurança. Era um órgão dotado de excepcionais poderes discricionários arbitrários com a faculdade de prender um cidadão e mantê-lo preso sem culpa formada por largos períodos de tempo. Qualquer comportamento considerado contrário ao regime político entrava na área de competência de investigação daquela polícia, e esse comportamento tanto podia ser público como privado, uma anedota sobre Salazar, uma questão de pedir melhor salário, uma crítica a decisão sobre uma obra pública, um artigo de jornal, uma reunião numa casa particular. Invocando a defesa política do regime tudo era sindicável".

Entrevista realizada por Diana Silvano. Idade do Entrevistado em 1974: 16 anos


"A PIDE fazia a censura, controlava os movimentos de todos aqueles que ousassem ofender de qualquer maneira o governo, estavam presentes nos poços fronteiriços. Depois por exemplo, todos aqueles que o governo conseguia prender por serem opositores a este, torturavam-nos tirando à força informações para também poder descobrir outros".

Entrevista realizada por Joana Bonito. Idade do entrevistado em 1974: 22 anos


"Não era comunista e esses é que eram atacados. Quem era politicamente comunista é que queria implantar o comunismo, como recebiam dinheiro da Rússia. A gente não sabia o que eram partidos, nem rádio tínhamos. Só sabíamos que havia o Salazar e os maus que eram os comunistas. E a BBC que era à meia-noite, quem tinha rádio apanhava. A Rússia e esses é que ouviam. Só as tabernas é que tinham rádio (...) A gente lia o que estava nos jornais, que passava. As zaragatas não saiam para os outros não fazerem mais tarde. Quando havia TV ( na altura estava em Lisboa), as noticias eram de festas, não havia notícias agrestes, mas nós nem nos apercebíamos (...) Quanto aos filmes de TV não davam tudo o que queríamos, eles aos beijos faziam uma simulação mas não se via, nos é que tínhamos de imaginar porque eram cortadas, nas notícias davam das aldeias, violência não havia".

Entrevista realizada por Martinho Ferreira. Idade da Entrevistada em 1974: 32 anos

"[Liberdade de expressão] não havia, e era preciso muito cuidado em falar em assuntos políticos, porque havia uma polícia secreta que tentava ouvir as conversas às escondidas. E quando éramos escutados por essa polícia, tínhamos que ter a responsabilidade do que dizíamos, caso contrario éramos presos. O Governo não permitia que falássemos mal de assuntos políticos porque se vivia numa ditadura (...) Naquele tempo só havia um canal, que era a RTP, que era controlada pelo estado novo e também havia só uma rádio que era a rádio clube português, que também era controlada pelo estado. [Nas artes] tudo o que quisessem não podiam fazer, mas iam dizendo e encenando as peças com alguma ironia e iam dizendo algumas verdades ao governo. Porque se o fizessem eram presos ou emigravam para outros países.

Entrevista realizada por Joana Carranca. Idade do Entrevistado em 1974: 35 anos

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