domingo, dezembro 24, 2006

Natal

O Natal é a cristianização das festividades pagãs dos Romanos por ocasião do Inverno. Eram várias as festas e rituais que nessa altura do ano os Romanos faziam. Destacam-se as Saturnais, entre 17 e 24 de Dezembro, tipicamente romanas (com trocas de prendas e festas alegres) e também as de Mitra, deus persa e "Sol da Virtude" ("nascido" a 25 de Dezembro) esta uma importação dos cultos solares do Médio Oriente, que se difundiu no Império à custa das legiões, que desenvolviam sincretismos religiosos com grande facilidade. No final do mês, ocorriam ainda as festas das Sigilárias, as festas das imagens, em que se ofereciam estatuetas como presente e se decoravam as casas com verdes, para além de se darem prendas às crianças e aos pobres.
Todas estas festividades eram envoltas de um ambiente diferente, pois, por exemplo, nas Saturnais os escravos eram alforriados por um dia, transformando-se em senhores e sendo servidos por aqueles que os possuíam. O culto oriental de Mitra, solar, que se expandiu no Mediterrâneo Oriental principalmente nos séculos III e IV a. C., atraiu imenso os romanos devido aos sacrifícios rituais de animais, assumindo semelhanças com o futuro Natal cristão pois acreditava-se que um pequeno sol nascia sobre a forma de uma criança recém-nascida. Também os povos germânicos e os celtas influenciaram o Natal cristão, introduzindo elementos novos na futura festividade de Natal, que nasceu mais ou menos quando destruíram o Império Romano do Ocidente.
Apesar de todas estas festividades pagãs os cristãos dos primeiros séculos não festejavam ou sequer conheciam o Natal, pois davam maior importância à Páscoa da Ressurreição de Cristo, numa reminiscência do Judaísmo de onde derivava o Cristianismo. A Páscoa representava um momento capital na tradição judaico-cristã e dos textos bíblicos, com uma carga simbólica de sacrifício que tocava mais aos cristãos do que o nascimento de Cristo, envolto em dúvidas e imprecisões, tanto que o culto a Maria só quatro séculos d. C. se começou a praticar e o de São José ainda mais tempo demorou a aparecer. Em pleno século IV, já depois da viragem de Constantino (313), em que o Cristianismo deixou de ser perseguido e se impôs como religião maioritária no Império, os cristãos, sem o temor da intolerância ou da morte na arena, começaram a cristianizar as festas pagãs no Ocidente, entre os quais as de Dezembro.
Em 354, o papa Libério instituiu a Natividade a 25 de Dezembro, de forma a assimilar as festas pagãs e a cristianizá-las. Esta data apareceu primeiro nas igrejas do Império Oriental (de tradição grega), que também marcaram o dia 6 como o dia da Epifania ("manifestação"), que no Ocidente corresponde à visita dos Reis Magos. A verdadeira data de nascimento de Cristo era uma incógnita total. Apesar da sua cristianização, as festas pagãs nunca desapareceram completamente do imaginário e do quotidiano das populações. Ainda que a celebração da Natividade a 25 de Dezembro fosse o momento mais importante, não se abandonaram as tradições antigas, que passaram a ter um carácter de fé. Foi na colina do Vaticano que se fizeram as primeiras festas do Natal: era nesse local também que tinham lugar os rituais e oferendas às divindades orientais. Cristo era também oriental, visto ter nascido na Palestina, o que facilitava a assimilação ordenada por Constantino.
Com o tempo surgiram as tradições natalícias que foram suplantando o valor religioso do Natal e abriram a festa a manifestações mais profanas, ainda que outras tenham surgido como forma de homenagem e louvor ao Cristo Menino mas só no século XIX é que conheceu uma popularização exponencial, chegando desta feita ao povo. O peru faz parte das tradições profanas, trazido pelos espanhóis no século XVI e que gradualmente substituiu na mesa dos nobres as aves mais caras e de difícil obtenção, como o faisão ou o cisne. Americanizado novamente, reconquistou a Europa e chegou a Portugal na segunda metade do século XX, mais como imitação do que como tradição. Outros elementos, como o Pai Natal, o pinheiro e sua iluminação (o fogo e as luzes simbolizam uma longa vida e a alegria) ou as prendas assumem também um carácter mais profano em relação ao sentido cristão do Natal.

1 comentário:

Ana Maria Neves disse...

Pois é Sónia... Cada vez mais profano o Natal ;). Mais uma vez obrigada pelo contributo! Boas Festas e aproveite bem as férias para descansar!